Pe Lanza, da banda Restart, levou uma pedrada na cabeça, em um show na cidade de Rio das Ostras, Rio de Janeiro, no último domingo (15). Seja quem for o infeliz, que talvez tenha pensado que estava fazendo “justiça” por causa do “pseudo-rock” do Restart ou simplesmente respondendo à música “ruim” deles, indignou muita gente. Não se sabe quem era o agressor, talvez melhor nem saber; provavelmente é um desses meninos que não conseguem arrumar namorada.
Legal a atitude de Pe Lanza que, em vez de ficar choramingando para a imprensa como muitos artistas fazem porque foi vítima disso e daquilo, partiu logo com a banda para Argentina, e bola pra frente. Cara inteligente, não deu retorno – sabemos que toda agressão espera um retorno –, deve ter doído muito mais no agressor, porque a indiferença dói mais, e pior: continua um mero desconhecido.
Pois é, o Restart, que quase sempre é retratado pela imprensa e público “cabeça” como uma banda de guris, continuou o show depois da agressão – isso que é profissionalismo -, numa atitude que muitos “roqueiros” não têm. E quando agredidos ficam pagando pau em cima do palco, ameaçam abandonar o show e acaba que o público tem que agüentar discursos cansativos, para não dizer lamuriantes.
O Restart foi incluído dentro daquilo que se convencionou chamar de Happy Rock, Coloridos, “rock bonzinho”; um tipo de som condenado por muitos, pela falta de atitude, letras bobas, refrões grudentos, e por ai vai… Mas então o que seria “rock do contra”? Encher o corpo de tatuagem e piercing e fazer cara de insatisfeito em shows e vídeos? Participar todo ano do VMB Brasil que mais parece festa da revista Caras versão pop rock? Ou bandas que tocam em festivais como Hollywood Rock? Sempre bom lembrar quando Neil Young (um “velho”) recusou a tocar no Hollywood Rock porque não queria associar sua imagem à marca de cigarro – bem diferente de uma Pitty que aceita fazer fotos sensuais para uma revista e depois esta mesma moça acha ruim fãs empolgados chamarem-na de “gostosa” no último Rock in Rio.
Cine, Replace, Hevo 84, Restart é rock sim, se entendermos por rock ir contra o establishment. Afinal, não agradam a “elite” do rock, críticos cinqüentões metidos a besta; músicos em decadência, que não lançam um álbum decente há anos, e vivem hoje apenas da arrogância e glórias do passado, e pais que acham que seus filhos deveriam ouvir Led Zeppelin, porque a cabeça deles ainda está lá nos anos 70.
Sex Pistols, Velvet Underground, os primeiros grupos de Black/Trash Metal, por exemplo, já foram considerados lixos pelos críticos e roqueiros na época às quais surgiram e só mais tarde reconhecidos como inovadores. Nunca sabemos o que as novas gerações irão curtir e idolatrar, e o que a mídia vai nos sugerir o que é bom ou não de se ouvir.
Bill Haley, Chuck Berry, Little Richard, músicos da primeira leva do rock, quando não faziam letras celebrando o incipiente Rock´n´Roll, falavam do dia a dia dos adolescentes; o rock só tornar-se-ia mais “cabeça” com Bob Dylan, quando eletrificou sua música. Os Beatles, por exemplo, até 1965 tinham um público formado por meninas entre 12 a 16 anos e as letras variavam muito pouco, não fugindo do tipo garoto-encontra-garota.
Bandas como Blitz e Kid Abelha e os Abóboras Selvagens (já levaram tomatadas em shows) foram chamados de “rock” nos anos 80. Por que essas bandas não poderiam estar dentro dessa categoria “Happy Rock”? Blitz tinha visual colorido e as letras falavam de festas, relacionamentos, vida na praia, etc. Tudo bem que eram bem melhores, mas contrastavam com o rock mais visceral das bandas que surgiam como Plebe Rude e Ethiopia. Portanto, não podemos negar que era um rock mais alegre.
A questão não é defender Restart, Michel Teló ou achar que rock do “contra” é o som pesadão do Matanza, o certo é que todo mundo tem o direito de fazer música. Quanto a gostar ou não, a escolha é sempre nossa. Existem milhões de bandas para se ouvir, portanto, para que perder tempo em falar mal ou agredir literalmente as que não gostamos?